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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

MOmento e se Randall Munroe



Com o conhecimento e os recursos atuais da humanidade, é possível criar uma nova estrela?
— Jeff Gordon

E se você tentasse rebater uma bola de beisebol arremessada a 90% da velocidade da luz?
— Ellen McManis
Vamos desconsiderar como seria possível a bola atingir essa velocidade e supor que
seja um arremesso normal. Mas quando o arremessador solta a bola, ela ganha a
aceleração mágica de 0,9c. Daqui para a frente, tudo se dá segundo a física normal.


R. A RESPOSTA ACABA SENDO “aconteceria um monte de coisa”. E seria tudo muito rápido e não terminaria bem para o rebatedor (nem para o arremessador). Peguei uns livros de física, um boneco articulado do Nolan Ryan* e um monte de vídeos de testes nucleares para ver se consigo entender o negócio. A seguir vai tudo que consegui prever, de nanossegundo em nanossegundo. A bola ganharia tal velocidade que tudo o mais ficaria praticamente estático. Até as moléculas do ar, que vibram a centenas de quilômetros por hora, ficariam paradas. A bola atravessaria as moléculas a 965 milhões de quilômetros por hora. Ou seja, em relação à bola, tudo estaria parado, congelado. O conceito de aerodinâmica seria inaplicável. Geralmente o ar flui em volta de qualquer coisa que se movimente nele. Mas as moléculas do ar em frente a essa bola não teriam tempo de se acomodar. A bola bateria nelas com tanta força que os átomos dessas moléculas entrariam em fusão com os átomos na superfície da bola. Cada colisão liberaria um estouro de raios gama e partículas dispersas.
Esses raios gama e detritos se expandiriam numa bolha centrada na base do arremessador. Elas começariam a rasgar as moléculas do ar, arrancando elétrons dos núcleos e transformando o ar do estádio numa bolha em expansão de plasma incandescente. A superfície dessa bolha chegaria ao rebatedor à velocidade da luz — só um pouquinho à frente da própria bola.
A fusão constante em frente à bola iria gerar uma força inversa, o que a retardaria um pouco — como se a bola fosse um foguete com a cauda voltada para a frente ao ativar os motores. Infelizmente, a bola estaria em tal velocidade que mesmo a força tremenda dessa explosão termonuclear mal diminuiria seu passo. Contudo, a explosão começaria a corroer a superfície, lançando pequenos fragmentos da bola em todas as direções. Eles teriam tanta velocidade que, ao atingir moléculas do ar, ativariam mais duas ou três rodadas de fusões. Passados aproximadamente setenta nanossegundos, a bola chegaria à base do rebatedor, o qual nem teria visto o arremessador fazer o lançamento, já que a luz que transporta essa informação chegaria nele mais ou menos no mesmo momento que a bola. As colisões com o ar teriam corroído a bola quase na sua totalidade, e nesse momento ela consistiria em uma nuvem de plasma principalmente carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio), no formato de uma bala, chocando-se com o ar e provocando mais fusões ao longo do caminho. A camada externa de raios X seria a primeira a atingir o rebatedor, e poucos nanossegundos depois viria a nuvem de detritos.

Quando estivesse chegando à home plate, o centro da nuvem ainda estaria numa velocidade que seria uma fração relevante da velocidade da luz. Primeiro atingiria o bastão, mas aí rebatedor, base e receptor seriam todos erguidos do chão e pressionados contra a cerca de proteção até se desintegrarem. A camada de raios X e plasma superaquecido expandiria para fora e para o alto, engolindo a cerca, as duas equipes, as arquibancadas e todo o bairro em volta — ainda no primeiro microssegundo. Se você estivesse assistindo do alto de um morro, fora da cidade, a primeira coisa que iria observar seria uma luz ofuscante, muito mais forte que o Sol. Ela diminuiria lentamente ao longo de segundos, e uma bola de fogo em expansão subiria até virar uma nuvem em forma de cogumelo. Então, com um estrondo absurdo, a onda de choque da explosão passaria arrancando árvores e destruindo casas. Tudo num raio de mais ou menos 1,5 km seria detonado, e uma tempestade de fogo engoliria a cidade. O perímetro do campo de beisebol, agora uma imensa cratera, estaria localizado a cento e poucos metros da antiga cerca de proteção.
Segundo a Regra 6.08(b) da Major League de Beisebol, nessa situação o rebatedor seria
considerado “atingido pelo arremesso” e teria direito de avançar para a primeira base.

retirado do livro "E SE" Randall Munroe
leia o livro...

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